As Maias em Melgaço

     Na nossa terra, como em muitas regiões do país, no passado dia 30 de Abril, reviveu-se a bela tradição das Maias, com a colocação nas fechaduras das portas de ramos de giestas em flor. É um costume muito antigo que tem a ver com a primavera e com a fertilidade da natureza. Há mesmo quem diga que a sua origem é religiosa, já que reza a lenda que Nossa Senhora, quando da fuga para o Egipto com Jesus, espalhou pelo caminho giestas para depois regressar pelo mesmo trajecto. Outra lenda refere que na Páscoa, estando Jesus em Jerusalém, os judeus puseram giestas na porta da casa onde se tinha hospedado, para assim ser preso mais facilmente, mas quando chegaram os soldados verificaram que todas as portas da cidade estavam ornamentadas de igual modo, com flores de giestas, ignorando-se assim a tal marca. Ainda segundo outros, o nome do mês de Maio terá tido origem em Maia, mãe de Mercúrio. Também há quem a associe ao início de verão, segundo origem celta. É certo que são lendas, mas demonstram a riqueza de uma velha tradição. Na nossa região, em Melgaço, nesta época do ano, as giestas são abundantes ao longo das bermas das estradas e dos montes e cativam pelo seu colorido majestoso de manchas de amarelo vivo, algumas em tom de branco, estas mais raras. Em criança, recordo a minha bondosa mãe me mandar buscar giestas, na tarde do dia 30 de Abril e depois percorrer toda a aldeia e colocar em tudo o que fosse porta um ramo de giesta, protegendo as casas da entrada do diabo, que era o que diziam os mais velhos:  “o diabo pode entrar nas casas e chupar o sangue da gente”, era esta a crença daquela época e todos diziam o mesmo. Embora a tradição não seja o que foi, ainda há quem a pratique e agora até colocam as Maias nos automóveis. As flores das giestas caiem e dão lugar a vagens que no verão nos dias calorosos quem passar por cima delas ouve um estalido, originado pelo seu rebentamento, soltando pequenas ervilhas pretas, que são as suas sementes. Os seus ramos, depois de cortados pelo pé e deixados a secar à sombra, eram atados com vimes e utilizados como vassouras, muito úteis na limpeza das casas, jardins, eiras e pomares. Pelo valor da tradição e pela beleza que acaba por trazer às casas, acho que seria um bom costume a valorizar e porventura a incentivar, para que assim se possa evitar o seu desaparecimento.

     MAIO   2010                              ABILIO FRANCISCO CONDE